sexta-feira, 8 de julho de 2011

Quando Tróia era a capital do ‘garum’


Nas margens do rio Sado encontram-se as ruínas romanas de Tróia, onde se podem visitar as oficinas de salga, as termas e a basílica paleocristã, que ainda se mantém em bom estado de preservação

Todo o País já ouviu falar, mas são poucos os que conhecem a imponência e a história das ruínas romanas de Tróia. Um raro complexo de produção de salga de peixe – será o maior do mundo romano – nas margens do rio Sado, com Setúbal, a “sua” antiga Cetóbriga, em pano de fundo, onde se produzia o então célebre garum, um distinto paté. Agora já não há motivos para que os vestígios continuem a ser uns ilustres desconhecidos. Este Verão estão a ser promovidas visitas guiadas àquele monumento nacional. Mas atenção: é preciso inscrição prévia através do e-mail arqueologia@troiaresort.pt ou pelo telefone 265 499 400. São mais de 2 mil anos de história que se abrem ao público, aquando dos tempos em que Tróia ainda nem era península, mas apenas uma ilha em pleno Sado, com o nome de Ácala. Foi por ali que o império romano ergueu fábricas para deitar mãos a uma espécie de “produção gourmet”, com paté de peixe que era conduzido a Roma, por via marítima, para abastecer, sobretudo, as famílias mais abastadas. Este preparado era muito apreciado nas cozinhas da época, traduzindo um negócio chorudo para os produtores, que exploravam o bom peixe desta região. A construção do complexo foi feita primeira metade do século I, teno a ocupação romana perdurado ao longo de 500 anos. É por aqui que se desenrola a visita promovida pela equipa de arqueologia do Troiresort, que decorre apenas às quartas-feiras e sábados. “Além das fábricas e das oficinas de salga, com uma capacidade e produção excepcionais, os visitantes poderão ver as termas e a basílica paleocristã, que é muito fora do comum pelo estado de conservação em que se encontra e pelas pinturas a fresco nas paredes”, destaca a arqueóloga coordenadora do projecto, Inês Vaz Pinto. O programa das visitas é vasto, começando por mostrar os romanos em Tróia, com actividades pedagógicas nas ruínas para crianças hospedadas no Troiaresort nos meses de Verão. Já para os maiores de 13 anos é possível ser-se arqueólogo por um dia experimentando o trabalho de escavação com a equipa de arqueologia durante um dia. Pelo meio, há um curioso jantar romano inspirado no livro de receitas de Apício. Na carta marca presença um prato com colatura di alici, um molho de peixe muito semelhante ao garum romano, que era feito à base de sangue e vísceras e de outras partes seleccionadas do atum ou da cavala misturadascom peixes pequenos, crustáceos e moluscos esmagados. Além dos jogos tradicionais romanos há ainda um passeio no estuário a núcleos de ruínas postos a descoberto pelas marés. Depois da recuperação do sítio, que se seguiu a um largo período de abandono das ruínas, nesta altura ainda está a ser a instalado o percurso de visita, que vai estar pronto no final deste mês. “Há todo um trabalho na envolvente que ainda não está feito, porque as ruínas são muito grandes. Este percursos é necessário porque vai tornar as visitas mais confortáveis”, justifica a arqueóloga

Foi para tirar partido das potencialidades do peixe da região e da excelência do sal do rio Sado, associados ao clima, que os romanos construíram a conserveira de Tróia, apostando na concretização de um dos maiores complexos de produção de salgas de peixe. Os tanques onde se preparavam as conservas e molhos de peixe, entre os quais o famoso ‘garum’, são a maior testemunha. O complexo é conhecido desde o século XVI, mas só 200 anos depois viria a ser sujeito à primeira escavação, por ordem da então infanta D. Maria – futura rainha –, que permitiu
desvendar as casas da chamada Rua da Princesa. Em meados do século XIX os trabalhos arqueológicos conduziram à descoberta do núcleo residencial da Rua da Princesa e parte das termas. Foi já em pleno século XX que foram desenvolvidos grandes trabalhos pelo Museu Nacional de Arqueologia que puseram a descoberto atotalidade das termas e a maior fábrica de salga além do mausoléu e de várias necrópoles. A 16 de Junho de 1910 o complexo foi classificado como monumento nacional, mas os arqueólogos sonham com “património da humanidade”.

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